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Felizes Para Sempre?, Brasília e um turismo cinematográfico brasileiro

  • Lucas Gamonal Barra de Almeida
  • 18 de set. de 2016
  • 3 min de leitura

A relação entre turismo e audiovisual já se configura como consolidado tema de pesquisa. John Urry, um dos principais teóricos do turismo e das mobilidades, é um dos pensadores que aborda a influência dos diversos produtos culturais e a relação deles com a formação do(s) olhar(es) do turista. Nesse trajeto, então, o cinema possui centralidade, com numerosos projetos que direta e indiretamente remetem uma ampla exposição de destinos.


Este contexto é apontado, no mercado, como um segmento com forte potencial. E esse segmento, por sua vez, envolve diferentes atores, tanto relacionados às técnicas do universo audiovisual, como diretores, produtores e artistas, mas também aqueles envolvidos na recepção das equipes, posteriormente, do público de fãs oriundos desses filmes e séries gravados na localidade. Todo esse contexto está atrelado ao que comumente se denomina por “cineturismo”.


No Brasil, algumas iniciativas governamentais nesse campo chamam a atenção, justamente por visarem ampliar as ações em prol do número de produções captadas e, além disso, atrair e fidelizar o público de fãs nos destinos turísticos trabalhados. Três materiais oficiais produzidos pelo Ministério do Turismo são destaque e podem ser mencionados*. São eles: “Estudo de sinergia e desenvolvimento entre as indústrias do turismo & audiovisual brasileiras” (2007), “Turismo cinematográfico brasileiro” (2008) e “Destino referência em turismo cinematográfico: Brasília - DF” (2010).


Como já foi dito, em linhas gerais, todos eles falam sobre o desenvolvimento do segmento apresentado como “turismo cinematográfico”, que possuiria grande potencialidade de desenvolvimento no país – levando em consideração que já se trata de algo bem firmado internacionalmente, especialmente na América do Norte e na Europa.


Contudo, nosso foco não é aprofundar essa discussão, mas sim tratar de um recente exemplo em específico, para realizar algumas reflexões. Trata-se da minissérie Felizes para sempre?, exibida pela Rede Globo no primeiro semestre de 2015. Certamente, distintos assuntos poderiam ser explorados quando se pensa na série em questão, pois ela abordou diversos tópicos polêmicos, como a política no Brasil (e a corrupção), os relacionamentos amorosos (homossexuais e envolvendo traições), dentre outros motes. Porém, falaremos de imagens, audiovisualidades e turismo.


O enredo tem como pano de fundo a cidade de Brasília. Cabe ressaltar, para iniciar nossos questionamentos, que, em um primeiro momento, o local escolhido como locação foi Niterói, no Rio de Janeiro, mas mudanças foram realizadas e consolidou-se a capital brasileira como destino final para as gravações. Isso nos faz retomar a menção ao documento produzido pelo Ministério do Turismo em 2010. Teria sido essa escolha ocasionada por forças de ação dos envolvidos com o setor? As ações das parcerias público-privadas teriam surtido efeito e atraído a produção para a cidade? Não temos essa resposta. Entretanto, ainda é expressivo observar que a produção rompe com o eixo Rio-São Paulo – que possui maior representatividade nas produções – e explora outros cenários.


Brasília não figura entre os principais destinos do país, principalmente em relação aos imaginários projetados sobre as cidades brasileiras. Porém, Felizes para sempre? parece ter obtido êxito na exposição que empreendeu, até mesmo por explorar atrativos da região, como o Vale da Lua, na Chapada dos Veadeiros. Mesmo quando explorava espaços-ícone do poder político e econômico, enrijecidos por sua natureza, outra aura pareceu envolver os cenários urbanos. Ainda poderíamos apontar a Praça dos Cristais, a Catedral Metropolitana, o Jardim Botânico, a Universidade de Brasília: todas essas locações, certamente, compõem a história e vão além da dimensão de mero pano de fundo. Os diretores – dentre eles o reconhecido Fernando Meirelles – realizaram tais escolhas de forma intencional, sem dúvidas. A paisagem, a arquitetura e tudo mais que envolve a urbanidade de Brasília torna-se destaque na trama – as personagens, de alguma forma, reagem aos espaços.


Cenas gravadas no Vale da Lua, na cidade de Alto Paraíso de Goiás, próximo à Brasília (Fonte: TV Globo).


Por fim, poderíamos apontar que Felizes para sempre? está diretamente relacionada ao que abordamos como cineturismo ou ao segmento do turismo cinematográfico. Mas, para irmos além de um olhar mercadológico ou essencialmente interessado em êxitos da série enquanto produto comercial, é interessante perceber a construção de uma imagem diferenciada, que talvez reforce estereótipos, mas que traz à tona – especialmente no universo da convergência, no qual a veiculação de Felizes para sempre? se destaca na TV – a vida e as cores de uma capital normalmente apontada como retilínea e sem vibração. A Brasília de Felizes para sempre?, ainda que seja cenário de acontecimentos trágicos, é desejada, se quer experimentar turisticamente.


Reportagens destacam como a série explora belezas de Brasília (Fonte: Gshow).


*Os arquivos podem ser acessados através do site do Ministério do Turismo - www.turismo.gov.br.


Para saber mais:

- “O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas” - John Urry (2001).

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